sábado, 6 de junho de 2015

os bichos que tão poraí: nos bares, nas falas, nos desenhos, nas poesias, na internet, nas cadeias e nas ruas

o canário já nasceu na gaiola

e ficou na gaiola o tempo todo

bem alimentado bem tratado bem izibido

na gaiola



o tebas cuidou bem do canário

e um monte de gente cagou regra pra ele

solta a porra do coitado do bichinho

mas se ele sair ele morre, disse o tebas

eu disse: um dia de liberdade do canário memo ele morrendo vai ser ducaralho bem melhor que ser preso uma vida toda

uma frase cheia de comparações esdrúxulas

o tempo é relativo

melhor e pior são atributos estranhos que estamos sempre usando como se tudo estivesse num torneio



já o gato da didi saía a hora que queria

e ela amava o gato dela

e ela fez um poema lindo sobre amor e liberdade e usou o gato

pessoas presas ao feicibuqui

condenaram a didi por essa atitude irresponsável de querer o outro livre



eu já estive encarcerado

voluntariamente prestei concurso pruma cadeia pública chamada repartição

não sou canário nem gato nem sei o que é ser

não sou de nenhuma associação protetora de porra nenhuma

não sou pai nem mãe



pretinho aqui da rua é um cão que vive solto numa rua em que todos os outros cães estão presos

os outros cães sempre latem quando eu passo na frente da casa de seus donos

(e de pensar que talvez nem donos das casas eles sejam, já que nessa rua tanta gente paga aluguel)

eu não gosto desses cães que latem

eu gosto do pretinho